Milagres

Prólogo


Eu corri. Corri mais do que meus músculos conseguiam aguentar. Foi quando ouvi o som do disparo. A dor me atingiu. Gritei e cai no chão. A dor era imensa.
Ele gritava o meu nome e falava alguma coisa, mas eu não entendia nada. Só havia dor. Foi quando vi algo sobre mim. E eu apaguei de vez.
1.            Propostas

O sonho era o mesmo. Minha família estava feliz, meu irmão estava curado e minha mãe só se importava conosco, não tinha ‘os namorados’ dela se intrometendo na nossa vida. Nós estávamos numa praia, meu irmão corria, como nunca correra vida, minha mãe estava sentada sobre uma toalha rindo. Então o despertador tocou.
Sabe quando você acorda com vontade de sair destruindo tudo? Era assim que eu estava me sentindo. Hora de voltar à vida real.
Rolei para fora da cama e engatinhei para perto da cama ao lado.
—Helcílio, vamos acordar está na hora de ir escola. –falei cutucando meu irmão caçula.
—Não quero ir hoje Karine, eu... –ele começou a tossir.
—Ei, ei. Tudo bem? –perguntei preocupada, já me levantando para vê-lo melhor.
Estou bem. –ele disse em meio à tosse tentando me tranqüilizar.
Meu irmão tinha Leucemia Linfóide Aguda, quando descobrimos o médico tinha dito que ele precisaria fazer quimioterapia, caso contrário a doença poderia piorar, mas no hospital que tínhamos ido não tinha e o hospital mais próximo era muito caro, então meu irmão não pode se tratar. Eu me esforçava o máximo para economizar o último centavo para poder pagar o tratamento e para ter o maior cuidado possível com ele
—Muito bem. Então levanta que você tem escola hoje. –eu disse ajudando ele a levantar.
­—Você também tem. –ele disse.
—Eu sei. –falei indo para a porta.
—Mas você não vai. –ele rebateu minha resposta.
—Quem disse? É claro que eu vou. –falei da porta. —Depois de deixar você na escola.
­—Sei. –ele disse desanimado.
Sai rindo do quarto, meu irmão era mesmo uma graça. Fui direto para a cozinha, depois de me arrumar para o colégio, fiz café, ovos e esquentei o leite. Helcílio já tinha terminado de se arrumar e já estava terminando se comer. Um a menos, faltava uma.
O quarto do final do corredor era o meu e do meu irmão, o da minha mãe era o primeiro da direita e o da frente era o banheiro. A porta do quarto dela estava fechada. Péssimo sinal. Abri a porta já esperando ver minha mãe deitada e um caro do lado dela.
Minha mãe ainda estava dormindo, mas o cara da noite passada (para a minha surpresa) já estava se arrumando para ir embora. Eu pelo menos esperava isso. Pelo menos esse tinha vergonha na cara e se mandava sem que ninguém criasse escândalos, porque tinha alguns que depois que acordavam achavam que a casa era deles e queriam fazer o que bem quisessem, usar a minha mãe, me usar como empregada e alugar meu irmão para ouvir besteiras. E para que o meu irmão não tivesse que presenciar trabalho da minha mãe eu estabeleci que não era mais para ela trazer eles para cá, mas pensa numa pessoa que não desiste em  me aborrecer e a não fazer o certo era ela.
—Bom dia!—o cara disse assim que me viu parada no quarto.
—Já está indo? –perguntei ignorando as palavras dele.
—Estou sim. –ele disse calçando os sapatos.
—Ótimo. –falei indo para o lado da cama onde minha mãe estava deitada.
Ela não tinha jeito, no chão perto da cama tinha uma seringa. Ela andou se drogando de novo.
—Acorda. Anda, pode levanta agora. Acorda. –gritei sacudindo ela e o cobertor.
O cara se assustou quando me ouviu gritar. Eu ri mentalmente da cara dele.
—O que você pensa que esta fazendo? –ela perguntou totalmente grogue.
—O que eu estou fazendo? Vou te mostrar agora o que eu estou fazendo. –falei puxando mais ainda o cobertor.
—Ahãã... Acho melhor eu ir indo Estela. –o cara falou já do lado da porta. Devo ter mesmo assustado ele.
—É melhor mesmo você não vai querer ver o que vai acontecer agora. –falei colocando as mãos na cintura, enquanto ele passava pela porta.
—O que deu em você para fazer isso? Você pensa que é quem? –minha mãe falou se levantando da cama.
Ela estava usando calcinha e sutiã. Bem típico. E para completar a cena ela estava bêbada, o hálito dela era puro álcool e pelo equilíbrio que ela não tinha, porque ela caiu no chão de tão bêbada que estava.
—Você sabe o que Estela? O Helcílio só tem oito anos. Vê se você me escuta bem e compreende também, ele não tem idade para ver a mãe bêbada, droga e seminua com um cara que ele nem conhece. –gritei, ela me tirava do serio com esse tipo de atitude dela.
—Ele vai ficar muito bem. –ela disse tentando se levantar.
—É claro que ele vai ficar bem, porque primeiramente você não vai mais trazer esses caras com quem você dorme para esta casa e segundo você não vai sair desse quarto até eu levar ele para a escola. –eu disse puxando ela pelo braço, para ela poder ficar de pé para poder me olhar nos olhos.
—Me solta Karine. –ela reclamou do aperto no braço.
—Não solto, até você me dizer que entendeu tudo o que eu disse.
—Se enxerga garota, você não manda aqui. –ela disse lançando o bafo de cerveja na minha cara. Se a policia parasse ela na rua, não seria preciso o teste do bafômetro para confirmar o estado dela.
­—Eu mando aqui mais do que você pensa. –falei.
Ela puxou o braço de mim e foi em direção a porta. Nem precisei corre para alcançar ela. A mulher não conseguia andar reto e perdia o equilíbrio o tempo todo.
—Você não me ouviu mesmo, não é? –falei rindo dela tentando se levantar novamente. —Você não vai sair desse quarto, até eu levar meu irmão para a escola, daí você pode fazer o que bem quiser.
—E eu acho que você não me ouviu. Eu disse que: Você não manda em nada. –ela disse quando conseguiu se levantar.
—Olha só. É só você parar de trazer eles para cá, e não se drogar, nem beber aqui, que você vai poder sair do quarto todas as manhãs. –falei ficando na frente da porta.
—Eu trago quem eu quiser para essa casa. E para de achar que você manda em algo aqui, porque sou EU que sustento essa casa. E é esses homens que eu trago aqui que pagam tudo o que temos. –ela gritou.
Como ela se iludia. O dinheiro que ela ganhava se prostituindo não dava nem para pagar o aluguel. Se não fosse por mim, agente estava morando debaixo de uma ponte qualquer por ai.
—Você pode continuar a fazer o que você faz desde que você não os traga mais aqui. Porque eu estou cheia de te falar isso quase todas as manhãs. Você esta parecendo àquelas molecas de rua que tem que ficar falando o que deve e não deve fazer. –gritei.
Foi quando ela me deu um tapa. Meu instinto de defesa foi quem reagiu. Dei um soco na cara dela. De tão bêbada que estava ela caiu no chão. Olhei para o canto direito do quarto e vi uma pilha de garrafa de cerveja vazia.
—É melhor limpar o quarto. –avisei.
Sai do quarto, quase que rosnando de tanta raiva que eu estava. Helcílio estava parado em frente ao quarto. Eu fechei a porta e me virei para encará-lo.
—Vocês brigaram de novo. –não era uma pergunta.
—Não.
—Eu ouvi os gritos Karine. –ele falou tranquilamente.
Suspirei. Não era para ele saber disso, eu não estava protegendo ele direito. Eu me ajoelhei para poder ficar da altura dele.
—Hel, vem cá. –eu disse calmamente.
Ele se aproximou e eu o abracei. Ele era a única boa na minha vida, a única coisa que me impedia de jogar tudo pro alto.
—Vai ficar tudo bem. –falei desejando que fosse verdade.
—Karine, volte aqui agora. –a voz de bêbada da minha mãe gritou do quarto.
—Você terminou de comer? –perguntei para ele.
Ele fez que sim com a cabeça.
—Ótimo, vamos nessa. –eu disse puxando ele na direção a porta da casa, eu não queria que ele me visse brigando com ela.
Quando estávamos no meio do caminho para a escola, ele me mostrou duas notas de 50 reais.
—Aonde você arranjou isso? –perguntei, pegando o dinheiro e escondendo.
—Com o amigo da mamãe. –ele respondeu.
—Que amigo. –perguntei.
—O que você expulsou do quarto da mamãe. –ele respondeu.
—Eu não expulsei ele. Mas porque ele te entregou isso? Ele falou algo?
—Ele disse que era pelo favor que a mamãe fez pra ele.
—Favor? –que irônico, pensei.
—Hey Gata. –eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.
—Oi Tiago. –respondi sorrindo na direção dele.
Ele atravessou a rua, para se juntar agente na caminhada.
—Como você esta garoto? –Tiago perguntou para o meu irmão sorrindo.
—Como sempre. Morrendo. –ele respondeu rindo.
—Nunca diga isso Helcílio. –eu o repreendi, enquanto parava de andar.
—Calma Karine. Foi só uma brincadeira. –Tiago disse me puxando para podermos continuar andando.
—Não teve graça. –falei seria.
—Ou pode ser que você não tenha senso de humor. Já pensou que pode ser isso? –ele perguntou piscando para o meu irmão.
—Ele tem razão K. , você não tem senso de humor. –meu irmão disse rindo.
—Valeu por me defender dele. –eu falei empurrando ele de leve.
—Hey garotão, que tal apostarmos corrida? –Tiago perguntou.
— To dentro. –Helcílio respondeu animado.
—Tiago, ele não pode...
—Vai fazer bem a ele Karine. Você prende de mais ele. Hel, vamos até a esquina. Não esta muito longe e sua irmã não vai ter um troço se ficar de vendo correr. –ele propôs me dando um olhar não-adianta-discutir-vamos-correr-você-querendo-ou-não.
—Beleza. –Helcílio disse.
Antes mesmo que eu pudesse falar algo em protesto eles saíram correndo que nem bala. Quando os alcancei na esquina os dois estavam discutindo quem tinha ganhado. Fazer o que? Eles eram garotos, e o Tiago se comportava como um meninão perto do Helcílio.
—Eu que ganhei Tiago, não tente roubar. –meu irmão reclamou.
—Eu que ganhei bebê. –Tiago disse rindo.
Tava na cara que foi o Tiago que começou a discussão só pra ver a cara de irritado do meu irmão. Como eu sabia? A cara cínica e o sorriso besta na cara dele eram uma boa pista.
—Não foi. Quem foi que ganhou K. ? –meu irmão perguntou se virando para mim.
—Foi você, é claro. Ele só ta fazendo isso pra te irritar Hel. –falei rindo da cara dele.
Ele mostrou a língua pra mim, o que me fez rir mais ainda. Nem irritado meu irmão parecia serio, ele era muito bom para ficar com raiva de alguém por bobagem. Era o que eu mais amava nele. O amor incondicional que ele dava aos outros.
—Muito bem. É melhor corremos se não você vai chegar atrasado.
Quando estávamos perto do colégio, Tiago deu a idéia de comprar balinhas para o Helcílio antes da aula. Ele deu umas moedas para o Helcílio, eu já esperava que ele desse um jeito pra ficar sozinho comigo, ele tinha algo pra me fala de importante e não queria que meu irmão ouvisse. E eu já sabia sobre o que era.
—Demorou hoje pra inventar uma desculpa antes do colégio. O que aconteceu? –perguntei olhando nos olhos dele.
—Só queria passar um tempo com você, sem que você ficasse no modo: planejamento. –ele disse sorrindo.
—Humm... O que é? –perguntei.
—Sofia descobriu uma casa de riquinhos que vão viajar daqui a dois dias. É uma boa oportunidade pra fazer uma limpeza na casa. Antes que você fale algo, eu andei dando uma olhada, vale a pena não são TÃO ricos assim, mas eles são cheios de dinheiro. –ele falou do modo profissional que ele tinha nessas horas.
—Não sei não o último roubo foi complicado de mais. Eu estava pensando em deixar a poeira baixar um pouco, antes de invadirmos alguma casa. –falei pensativa.
Um lado da minha vida que poucos conheciam: eu era uma ladra. Eu tinha que arranjar um jeito de pagar as dívidas que minha mãe fez e meu salário de garçonete não pagava nem se quer a pobre alimentação que tínhamos. Então comecei a roubar para sobreviver. Depois de algum tempo nessa vida conheci pessoas não tinham condições de sobreviver honestamente, como eu. Tiago era uma delas. A solução: juntamos-nos e viramos uma pequena família. Cuidávamos uns dos outros, se alguém estava mais necessitado, ficava com mais. Foi assim que minha família adotiva começou a juntar dinheiro para o tratamento do Helcílio. Eu liderava por ter mais experiência e mais habilidades era uma responsabilidade difícil, mas eles dependiam de mim.
—Precisamos de dinheiro o último roubo não deu pra pagar quase nada das contas e você é quem precisa mais e não venha me dizer que não. Eu sei que suas economias não estão como você queria para pagar o tratamento do Helcílio. Queremos te ajudar, mas só podemos se você permitir. –ele falou me olhando profundamente nos olhos.
—Eu sei disso. Mas eu tenho que pensar no melhor pra todos e se a policia nos pegar como fica meu irmão? Minha mãe é bem capaz de matar ele de fome isso se ele não morrer antes. –falei desviando o olhar.
Helcílio já estava saindo da loja com um saco de balinhas. Tiago ainda ia matar meu irmão de diabetes se a leucemia não o matasse primeiro.
—Eu tenho tanto medo, sabe. Não sai da minha cabeça o dia que aquele médico falou que se ele não fizesse à quimioterapia a doença pioraria. Às vezes olho pra ele e penso que hoje pode se o último dia dele. –falei quase que chorando.
—Vamos conseguir o dinheiro K. , você vai ver. Pode confiar. –ele disse passando o braço na minha cintura.
Helcílio já estava atravessando a rua. Eu escondi meu rosto no peito do Tiago para que ele não me visse daquele jeito. Chorando.
—Vocês estavam falando sobre o que? –ele perguntou quando chegou mais perto. Aproveitei que ele olhava para o Tiago para limpar as lagrimas.
—Nada de muito importante. –Tiago respondeu por mim.
—Podemos ir? Você já ta atrasado e sua professora vai me matar, sabia? –falei me virando pra ele.
Eu o deixei na sala de aula. Tiago me acompanhou em silencio ate a esquina pelo menos.
—Já decidiu sobre como vai ser? –ele perguntou.
—Já.
—E... –ele perguntou parando na minha frente.
Eu parei e olhei bem no fundo dos olhos dele. Eu não teria parado na frente daquele beco nojento, mas ele não ia me deixar passar.
—Não. Não vai ter roubo porque a policia ainda esta nos procurando e podemos ser presos. E acredite não vou deixar meu irmão nas mãos daquela louca. –falei cruzando os braços.
—Karine, pensa bem as coisas não estão boas pra ninguém e...
Eu nunca soube a outra justificação dele porque um grupo de sei-lá-o-que veio do beco sujo e nojento e nos atacou. Agora eu sabia por que não fui com a cara do beco. Tiago lutou muito bem ate que um dele veio por trás e o acertou, foi ai que alguém me acertou com um bom gancho de direita, eu acho, que me fez desmaiar.
Uma realidade do mundo do crime que muitos desconhecem: quando você é um ladrão, sempre tem um ladrão que vai controlar todos os outros ladrões. E uma regra bem básica esse chefe vai querer sempre uma parte do que você rouba. No nosso caso era o Max, mas ele não tomava nada de pequenos ladrões como nós. Era assustador pensar que ele queria falar com agente.
Estávamos vendados estávamos amarrados e estávamos assustados é não podia ficar pior. Eu podia ser durona e botar medo nas pessoas mais eu não era nada idiota para não ficar quieta. Assim que tiraram as vendas vi onde estávamos e para a minha surpresa parecia uma fabrica abandonada tinha três poltronas e um sofá, uma pequena mesa de decoração no centro, uma tapete vermelho, as paredes estavam sujas e manchadas de algo marrom e tinham vários carros desmontados em volta do pequeno quadrado em que estávamos. E tinha um cara com roupas muito elegantes sentado numa das poltronas.
Não tinha como negar ele era muito lindo, não um lindo qualquer, mas um lindo que colocaria o Brad Pit no chinelo. Na minha opinião. Só pra registrar eu tinha uma pequena queda pelo Brad quando pequena, mas a sortuda da Angelina apareceu e tudo acabou. Ele tinha um cabelo castanho escuro que ia ate os ombros, olhos castanhos claros e uma boca que hipnotizava, ele não devia ter mais que uns 22 anos e vestia uma roupa social preta que combinava plenamente com ele. Mas ele não era o Max. E foi o que assustou mais.
Max era um cara gordo, porco e ignorante e eu suspeitava que ele tivesse desequilíbrio mental e emocional para ser do jeito que era.
Esse estranho fosse que fosse queria algo de nós e não importava o que fosse eu não faria. Eu não obedecia ninguém, porque obedeceria ele?
—Finalmente estou vendo grande Gata Negra. Perdoe os modos dos meus homens não era para você vir para cá dessa maneira. –ele disse se levantando.
Ele parou na minha frente e me estendeu a mão, o que eu recusei logicamente. Ele sabia meu outro nome, somente meus amigos sabiam esse nome. Era um péssimo sinal. Levantando-me, tratei de olhar bem pra ele. Tiago estava ainda inconsciente no chão. Fui para o lado dele, ele ainda tinha pulso, o que me aliviou.
—O que você quer? –perguntei.
—Sempre fiquei surpreso com suas habilidades de fuga e roubo obviamente. –ele disse pegando o copo com um liquido dourado da mesa.
—Só vou repetir mais uma vez e é bom responder. –os cara, que estavam ao redor prepararam, as armas. —O que você quer?
—Você é bem direta em? –ele falou sentando na poltrona novamente.
—Você não vai querer que eu repita. –falei.
Eu era louca mesmo. Eu estava em desvantagem. Primeiro ponto. Estava desarmada. Segundo ponto. E terceiro e grande problema eu não matava. Eu podia ser ladra, mas não era assassina. Tal vez suicida.
—Vamos aos negócios, então. Eu trabalho pro Max. –ele falou olhando o copo.
—Eu nunca vi você com ele. –falei.
Se ele trabalhava para o Max era quase um alivio, mas não deixava de me perturbar a informação.
—É porque ele estava um pouco ocupado e não pode vir. –ele respondeu tranquilamente.
—Prove.
Ele me olhou de cima abaixo o que me arrepiou. Eu não estava muito convencida do trabalho dele. Ele parecia muito... Arrumadinho para trabalhar para alguém como aquele porco.
—Vai ter que acreditar em mim.
Eu considerei por um minuto. Eu não tinha muitas escolhas. Era um beco sem saída.
—Porque estou aqui? E como você sabe quem eu sou? –perguntei quase que gritando.
—Você esta aqui porque Max quer algo de você. E eu sei quem você é porque tenho colocado meus melhores homens a sua procura. O que foi uma coisa difícil de fazer, já que você desaparece depois dos roubos.
Era por isso que eu não queria dar outro golpe tão cedo e olha o que aconteceu sem ter que roubar tão cedo? Pegaram-me.
—O que o Max quer de mim e quem é você? –o jeito dele de não me responder direito tava me tirando do serio.
—Meu nome é Dimitri. O Max me mandou pra cobrar um divida sua. –Dimitri falou dando outro gole do liquido.
—Nunca peguei dinheiro com o Max. –falei.
—Você pode não ter pegado, mas seu pai pegou.
Mais um item para eu adicionar na lista de como eu odeio meu pai já morto. O cara mesmo morto ainda me trazia problemas. Tinha as dividas no banco, do carro que foi roubado e agora isso. O que mais falta?
—Não é problema meu. –falei meio que mordendo a língua pra não falar besteira.
—Mas o Max acha que é. Então você vai pagar o que seu irmão deve, caso contrário...
—Caso contrário você vai fazer o que? Me torturar? Me matar? O que você vai fazer? –perguntei colocando as mãos na cintura meio que em forma de ameaça.
—Com você nada, mas com seu irmão muita coisa Karine.
Foi como se tivessem me jogado numa fogueira, eu me senti quente, quente de raiva. Eu pulei em cima dele já socando a linda cara dele o máximo que eu podia ate um dos caras armados me tirarem de cima dele. Pelo jeito eles não tinham ordem de me matar. Bom saber.
Eu não consegui fazer muito estragos, mas consegui deixar naquela linda boca dele um belo de um corte. Ele se levantou da poltrona e veio na minha direção, onde os grandões me seguravam.
—Você vai pagar a divida garota ou seu irmão não vai precisar esperar a doença matar ele. –ele falou de uma maneira tão calma que me assustou. Ele não estava de brincadeira.
Eu lutei para me soltar, mas aqueles caras pareciam pedra de tão forte que eram. Nem se moveram tentando me segurar.
—Você tem... Era para eu te dar um mês para me entregar os 1.500 reais, mas por causa dessa sua pequena demonstração de força você só tem três semanas. –ele falou limpando o sangue. —Se não alem de matar seu irmão, eu te mato, mas antes com certeza vou me divertir com você.
—Não tem como eu fazer isso, a polícia esta no nosso rastro, por causa do ultimo roubo. E não tem nenhuma casa vazia. –falei entre os dentes.
—Não foi o que eu soube. Meus homens ouviram seu amigo aqui dizer que vai ter uma casa disponível daqui a dois dias. Está bem ai sua chance. É você quem escolhe: a vida do seu irmão ou o pagamento.
Nem precisei pensar. Sempre escolheria meu irmão. Por ele eu morreria mil vezes antes de deixar alguém machucá-lo.
—Você venceu. Vai ter seu dinheiro em breve.
—É bom saber que você aceitou minha proposta. –ele disse me dando as costas indo em direção a uma porta nos fundos. —Podem tirá-los daqui.
Assim que ele disse isso, me socaram de novo e eu desmaie. Eu estava bem encrencada como nunca estive antes.